Estando sempre longe é difícil lembrar
que agora ainda está mais longe. Como quase se esquece, às vezes apetece pegar
na agenda e marcar o número, que não se sabe de cor, apenas os primeiros quatro
dígitos. Marcar um a um, até completar os nove que levam àquela voz emocionada
de quem ouve quem ama. Ou ouvia.
Se o número for marcado novamente no
telefone antigo, em que há uma roda giratória, onde estão inseridos todos os
algarismos de 0 a 9, que devem ser levados até à pequena patilha metálica que é
a garantia de que aquele número ficou mesmo registado, não acontece nada.
Nada.
Se não acontece nada, se do outro lado
há apenas um vazio que ouve o telefone a tocar incessantemente na pequena
mesinha de madeira, então porquê a lembrança? Por que continuam os primeiros
quatro dígitos a martelar na memória e a insistir em insinuar-se se já não
levam àquela voz que ama?
Talvez haja um novo número de que ainda
não tenho conhecimento. Ou talvez não seja possível ligar de lá para cá e o
desespero seja mútuo.